Subsídio a combustíveis no Paraguai é criticado por economistas

Alguns dizem que o país corre o risco de se “argentinizar” ou “venezuelar”.

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Alguns dizem que o país corre o risco de se “argentinizar” ou “venezuelar”.

A redução no preço do óleo diesel e da gasolina de 93 octanas (a mais consumida), que entra em vigor nesta segunda-feira, 21, nos postos de combustíveis da estatal Petropar, no Paraguai, foi alvo de críticas e de preocupações.

O jornalista e economista Pablo Herken, ouvido pelo jornal La Nación, disse que a única coisa que se obteve até agora foi “parar a paralisação”, mas “não se sabe como isso será custeado, sem saber por quanto tempo se vai sustentar o preço, sem saber nada”.

A decisão de reduzir os preços foi tomada pelo governo para diminuir a tensão no país, onde os bloqueios de rodovias ocorriam em diversos pontos e os ânimos dos transportadores estavam cada vez mais exaltados.

Antes, o governo havia tentado aprovar no Congresso um projeto de lei que criaria um fundo para manutenção dos preços dos combustíveis, mas houve boicote da classe política, que não deu quórum para as discussões tanto na quinta como na sexta-feira, 18.

SUBSÍDIO

O subídio ao diesel e à gasolina representa “uma enorme distorção introduzida no mercado de combustíveis”, disse o economista César Barreto. Já na redução anterior, de 400 pesos (R$ 0,30), formavam-se filas nos postos da estatal para encher o tanque com combustível subsidiado, afirmou.

As filas nos postos da Petropar serão cada vez mais comuns, a partir de segunda-feira, quando a redução nos preços vai aumentar. No caso do diesel, o preço vai diminuir 1.000 guaranis (R$ 0,72); na gasolina, 800 guaranis (R$ 0,58). Como a Petropar tem apenas 10% dos postos de combustíveis do país, as filas serão inevitáveis e cada vez maiores.

“A Petropar terá enormes prejuízos, que serão cobertos com recursos do Tesouro, ampliando o já enorme déficit fiscal”, alertou Barreto.

DISTORÇÃO

O ex-ministro da Fazenda César Barreto disse que, ao subsidiar somente os combustíveis vendidos pela Petropar, o governo “introduz uma distorção artificial, outorgando-lhe uma vantagem no mercado com relação a seus competidores. Isto vai interferir diretamente na igualdade de condições que deve prevalecer num mercado competitivo, para que funcione corretamente”, explicou.

Outro alerta vem do economista José Luis Rodríguez Tornaco. Segundo ele, precisa haver cuidado em relação ao alcance do subsídio, que pode “atravessar fronteiras”.

“De repente, no Brasil, se dão conta de que no Paraguai temos um combustível mais barato e virão caminhoneiros a abastecer em Ciudad del Este e em todas as fronteiras. Quer dizer, vamos subsidiar os vizinhos, e esse é o elemento que é preciso levar em conta no momento de instrumentalizar a medida”, afirmou Rodríguez Tornaco.

ARGENTINIZAÇÃO

O economista disse ainda que o Paraguai está com a economia paralisada e que as estimativas são de que o crescimento médio anual, nos próximos quatro anos, ficará perto de 0%.

“E, agora, vamos subsidiar combustíveis? Subsídios e controles de preços não são sustentáveis, a Argentina é o exemplo”, afirmou Tornaco.

Gustavo Leite, ex-ministro do Ministério de Indústria e Comércio, disse que as medidas em sequência adotadas elo governo, com endividamento muito acelerado, 0% de crecimiento económico e plano de novo endividamento (para bancar alta dos combustíveis), “para temas que não têm sentido, evidentemente aceleram as possibilidades de que nos convertamos numa Argentina. Ou pior, numa Venezuela”, disse Leite.

“Esta classe política que está no governo é perigosa para o Paraguai”, concluiu o ex-ministro, na entrevista ao La Nación.

NA ARGENTINA

A questão do subsídio aos combustíveis, na Argentina, foi abordada pelo H2FOZ, em matéria que teve ampla repercussão. No texto, falou-se justamente que o subsídio beneficiava o consumidor paraguaio, principalmente, em prejuízo dos postos desse país.

Subsídio sempre traz distorções. O Brasil está tentado a cair nessa, pelo momento político (eleições à vista) e porque somos dependentes do mercado internacional.

Embora o Brasil produza mais petróleo do que consome, para o óleo retirado de águas profundas não há refinarias suficientes. Vendemos a maior parte do petróleo e precisamos comprar gasolina e diesel de outros países.

Não é o caso da Argentina, autossuficiente em combustíveis como diesel e gasolina, mas com outra dependência: de gás, para gerar energia elétrica. E este será seu grande problema a partir da crise gerada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia (tema pra outros textos).

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